Monday, July 20, 2009

"Magnificient Desolation" Buzz Aldrin

"When we are up there looking the world, nothing seems wrong, but when we are down here looking up, everything is different."

My home is my head - Joseph Arthur

Saturday, July 18, 2009

"MERDA, dÓI-me o CoraÇÃO..."


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Friday, July 10, 2009

Identidade – Milan Kundera

“ Aquele encontro mal sucedido, que os tornou incapazes de se beijarem, acontecera realmente? Chantal ainda se lembrará daqueles poucos instantes de incompreensão?”

“Aprendi a ter um certo prazer com isso, mas mesmo assim, ter duas caras não é fácil. Exige esforço, exige disciplina! Tens de compreender que, quer queira, que não, tudo o que eu faço é com a ambição de fazer bem. Quanto mais não seja para perder o meu emprego. E é muito difícil trabalhar na perfeição e, ao mesmo tempo, desprezar esse trabalho.”

“Foi então que a cunhada, com uma admiração tocada de hostilidade, lhe chamou a Mulher-Tigre: «Não te mexes, ninguém sabe o que pensas, e atacas.»”

“Por mais que lhe dissesse que a amava e a achava bonita, o seu olhar amoroso não poderia consolá-la. Porque o olhar do amor é o olhar do isolamento. Jean-Marc pensava na solidão amorosa de dois velhos seres que se tornassem invisíveis para os outros: uma triste solidão que prefigura a morte. Não, não é de um olhar de amor que ela precisa, mas da inundação dos olhares desconhecidos, grosseiros, concupiscentes e que poisam nela sem simpatia, sem escolha, sem ternura nem delicadeza, fatalmente, inevitavelmente. Esses olhares conservam-na na sociedade dos humanos da qual é separada pelo olhar do amor.
Com remorsos, pensava nos começos vertiginosamente rápidos daquele amor. Não tivera necessidade de conquistá-la: fora conquistada desde o primeiro instante. Voltar-se por causa dela? Para quê? Ela estava a seu lado, diante dele, junto dele, desde o início. Desde o início fora ele o mais forte e ela o mais fraca. Esta desigualdade depositou-se nos alicerces do seu amor. Uma desigualdade injustificável, uma desigualdade iníqua. Ela era mais fraca por ser mais velha.”

“Podemos acusar-nos de um acto, de uma palavra que pronunciámos, mas não podemos acusar-nos de um sentimento, muito simplesmente porque não temos qualquer poder sobre ele.”

“A amizade é indispensável ao homem para o bom funcionamento da memória. Lembrar-se do passado, traze-lo sempre consigo, é talvez a condição necessária para conservar, como se costuma dizer, a integridade do eu. Para que o eu não escolha, para que mantenha o seu volume, é preciso regar as recordações como as flores de uma vaso, e essa regra exige um contacto regular com testemunhas do passado, isto é, com amigos. Eles são o nosso espelho, a nossa memória; não se exige nada deles, apenas que, de vez em quando, puxem o lustro a esse espelho para que nos possamos mirar nele. Mas estou-me nas tintas para o que fazia no liceu! O que sempre desejei desde a primeira juventude talvez desde a infância, foi algo completamente diferente: a amizade como um valor acima de todos os outros. Gostava de dizer: entre a verdade e o amigo, escolho sempre o amigo. Dizia-o por provocação, mas pensava-o a sério. Hoje sei que essa máxima é arcaica. Podia ser válida para Aquiles, o amigo de Pátroclo, para os mosqueteiros de Alexandre Dumas, até para Sancho que apesar dos desacordos era um verdadeiro amigo do seu amo. Mas já não o é para nós. Vou tão longe no meu pessimismo que hoje posso preferir a verdade à amizade.”

“…mas angustiara-o verificar que nenhuma profissão o atraía espontaneamente.”

“Que mais escolher depois daqueles anos perdidos? A que havia de agarrar-se se o seu íntimo permanecia tão mudo como antes?”

"- Não me esqueço nunca do momento em que deixei a faculdade e em que compreendi que já tinham partido todos os comboios."

Tuesday, July 07, 2009

António Lobo Antunes

“Quem quiser paz não pode provocar as coisas, entristece-las, tirar-lhes a esperança de um futuro em comum, senão a vida torna-se impossível.”

“O que vêem os olhos quando já não podem ver.”

“ …nestas pessoas que não sonham o que lhes deves nem acreditam em ti por mais que o repitas.”

“O silêncio do lado das vozes quando as nossas lembranças, uma a uma se calam.”

“Não te lamentes, não te tornes amargo, não esperes: ocuparam o teu lugar, não tens espaço, fica o pó de algumas frases que um sopro distraído varrerá, um lugar nas selectas, títulos que penduraste à entrada dos teus gritos, nada porque nada te atinge ou te perturba. É tarde.
Tão quotidiana foi a tua vida, pequeninos gestos, pequeninas maçadas, pequeninos projectos, pequeninos desejos e tanta luz em volta que te não perturba. És uma estátua entre estátuas, cegaste?”

Manuel Alegre

Assim te vingavas da tua antiga inquietação. Ou talvez não. Talvez que, a partir de certa altura, tu fosses mesmo assim. Sabias e não sabias. Gostavas e não gostavas. Ou não gostavas de gostar. Ou gostavas e não querias. Ou querias gostar como dantes e já não eras capaz. Talvez a magia tivesse desaparecido. Não sei. Foi-se-me a paz e a plenitude que era eu gostar de ti.”

“Hoje sei que só poderias amar apaixonadamente. Mas havia em ti um impulso de destruição, procurarias sempre matar o teu amor. Ou então consumi-lo e consumir-te.”

“Porque é um viver de se morrer a cada instante. Foram anos e anos de plenitude e penitência. Nem um só dia sem a incerteza e o ciúme. Não só o concreto, mas o abstracto, que é o pior de todos. (Ciúmes de quem te via quando eu não podia ver-te. De quem te ouvia e falava. Ciúmes das pessoas e dos sítios. Ia a dizer: do próprio ar que respiravas. Ciúme sobretudo, de Lisboa. Não sei porquê, sempre pensei que era Lisboa que nos separava, não pela distancia, mas pela vida.”

“Olá, dizes. Mas não como dizias. Olá, tão perto e já tão longe.”

“-Já reparaste como as pessoas olham para nós?
-É porque temos uma luz”

“Não só a infância, as tardes de Julho, mas um certo modo de vida, um tempo perdido no tempo, uma plenitude, um esplendor. Algo que não poderia recuperar-se nunca mais…”

“-São sombras, dizias, sombras e sombras.
Há pessoas que trazem em si a solidão como uma doença que ninguém pode curar. Assim eras tu: havia uma parte de ti inalcançável. De repente ficavas triste, começavas a correr para lado nenhum ou então nadavas para longe, até ao limite, até ao risco. Fugias de uma invisível ameaça e dir-se-ia que corrias para o perigo. Era um medo do desconhecido, talvez um pressentimento.
- Tenho saudades, disseste, uma tarde, em Alba, tenho saudades e não sei de quê, estamos aqui e já tenho saudades de estar aqui, tu estás comigo e eu tenho saudades de ti como se já não estivesses cá, está tudo a passar, o tempo, a vida, está tudo a passar muito depressa.
(…)
Tenho receio que apareças e me digas Olá inesperada, como sempre, para depois, mais uma vez, como sempre, desapareceres.”

“Vou ao teu encontro e não sei se te encontrarei. Não sei sequer se receberás esta carta. Pergunto-me aliás, se é para ti que escrevo, se é para mim, se para ninguém.
Preciso de avisar-te, não sei se chegarei a tempo, creio que nunca o consegui.
Sombras, disseste uma vez. Sombras, meu campeãozinho, sombras dentro de mim. E outras. É sobre elas que tenho de falar contigo.
Tentei contactar-te. Impossível. Estás mais longe do que pensava. Não é tanto a distância, mas o resto.
Mesmo que não te encontre, talvez o facto de partir seja de certo modo um reencontro comigo mesma. E até contigo, algures, no tempo. Ou mais um desencontro. Quem sabe. Costumavas dizer que tudo é e não é, que eu estava e não estava, que às vezes era eu e outra.
Gostaria de dizer-te o que foste, o que és, o que serás sempre para mim. Na tenho jeito. E nem sequer é preciso. Tu sabes. Sempre soubemos um do outro. Suponho que continuas a ler Rilke. Como Lou Andréas-Salome, também eu poderia escrever-te:
“Embora longe de ti, ainda te verei.
Embora longe de ti, serás sempre meu.”
Não gosto de fífias, estou quase no limite. Por que é que ao fim e ao cabo, não ficámos juntos? Não sei responder. Só sei que não ficando contigo nunca fui de mais ninguém. Fisicamente sim, o resto não. De certo modo continuarei sempre menina, sentada numa varanda, à tua espera, algures, no tempo, em Alba. Talvez tivesse de se ser assim. Ou talvez não. Apetece dizer que talvez eu tivesse de perder-te para nunca me perder. E que só não me tendo acabarias por me ter sempre, como tens. É capaz de ser verdade. Mas as fórmulas estão gastas. Para quê explicar? Não se explica o inexplicável.
Não, não foi por causa da política, nem da circunstância, muito menos das famílias. Ou talvez tenha sido. Embora eu ache que nós estamos acima, antes, depois. E fora, mesmo que dentro.
Foi assim porque sim. Nos astros, lembras-te? E na palma da mão. Estou a ver as nossas linhas: continuam cruzadas. É por isso que amanhã vou ter contigo, mesmo sem ter a certeza de te encontrar.”

Wednesday, July 01, 2009

Miguel Esteves Cardoso

“Não sou só eu. Não somo evoluídos. Estamos no princípio. O Dr. Salvado, meu dentista, explicou-me no outro dia que os seres humanos mais evoluídos já não têm sisos nem incisivos. O Dr. Castro Caldas, meu neurologista, a quem devo o sono e o bom senso que me resta, revelou-me que ainda estamos na pré-historia e que todos os medicamentos são grosseiros.
Estamos mal. A procissão ainda vai no adro. A Idade da Pedra não só começou mal, como mal começou. Estamos a matar-nos todos uns aos outros. Não percebemos nada. Andamos de um lado e de um dia para o outro sem saber porquê.
Somos ainda selvagens. Somo macacos. Rio-me de quem acrescenta nus ou inteligentes. Somos praticamente tão peludos e estúpidos como os chimpanzés. O que nos distingue, tal como os chimpanzés, é a mania de que somos bons.
Estamos atrasados. O nosso atraso não é tecnológico. É civilizacional. Não sabemos comer a mesa. Não sabemos vestir-nos. Não sabemos respeitar-nos. Não nos controlamos. Não nos compreendemos. Não nos coibimos seja do que for. Nem sequer conseguimos inventar uma cura para a constipação ou uma desculpa melhor do que “Está em reunião”. Ainda somos animais. Não gosto de animais. Os animais são maus. São pouco sofisticados. São pão-pão queijo-queijo sem o pão e sem o queijo. Não escrevem. Não se riem. Não fazem amor como deve de ser. Não têm imaginação. Não se deixam prender por uma ideia abstracta. O pior dos animais, aliás, é serem destituídos de abstracção. Os animais são seres humanos com limitações ainda maiores.
Quando vejo um documentário sobre aranhas ou lavagantes e reparo na maneira como se tratam, dou graças a Deus de ser humano. Posso ser desprezível, mas era incapaz de comer a cabeça da minha namorada (por muito que já me tivesse apetecido) ou as pernas da minha mãe. Preferia ser judeu à porta da câmara de gás e ter um nazi pela frente, do que ser mosca presa na teia de uma aranha. Com um nazi sempre se pode conversar. Sempre se pode cuspir-lhe na cara e chamar-lhe nomes. O que alivia. Um aranhiço está se completamente nas tintas.
Estamos no princípio dos princípios. O mal dos homens é serem demasiado parecidos com os outros mamíferos. São macacudos e bovinos. Só ligeiramente melhores. Cospem na rua. Apalpam nos autocarros. Comem como uns javardos. Andam à porrada. Gemem, urram, fornicam e fazem jogging.
O principal sinal de humanidade é a maneira como só seres humanos tratam os animais. O ser realmente sensível e pensante, carinhoso por sentimento e prestável por sistema, teria a delicadeza da superioridade. Há-de reparar-se que as pessoas e as civilizações mais brutas são as que mais maltratam os animais. É preciso um mínimo de humanidade para se ter pena dos bichos. Os bichos não são gente, mas não tem culpa de não ser. Nós temos. Tenho um gato que adoro, mas não aguento vê-lo a torturar os passarinhos que apanha na varanda. Não havia em Auschwitz crueldade como a deste Agostinho. Ninguém o poderia defender em Nuremberga. Ele não tem culpa, mas o facto de não ter culpa não o pode absolver. É mau. É querido. Mas só pensa em comer e dormir. Nunca vi o materialismo levado a tal extremo.
Temos de ser mais humanos. Reconhecer que somos as bestas que somos e arrependermo-nos disso. Temos de nos reduzir à nossa miserável insensibilidade, à pobreza dos nossos meios de entendimento e explicação, à brutalidade imperdoável dos nossos actos. O nosso pé foge-nos para o chinelo porque ainda não se acostumou a prender-se aos troncos das árvores, quanto mais habituar-se a usar sapato. “

Como somos e ao que chegamos….


O ser humano repugna-me mais do que me atrai. E a verdade é que tenho vindo a desenvolver aversão a certos locais e principalmente a pessoas…
Como nas viagens de autocarros…somos verdadeiros animais…
Desde ser albarroada pelo pessoa do banco da frente até ter de ouvir adolescentes ao telefone com vozes estridentes que pensam que estão sozinhas num espaço de 5 km, em vez de terem consciência que estão num espaço fechado, com pessoas que podem não tolerar muito bem o barulho. E pior que isso, é haver alguém que ainda consegue falar mais alto logo a seguir. A “picuinhez” de querer ir no lugar marcado, A discussão que isso gera…Cabem todos, qual é o drama….percebo que certas regras tenham de ser obedecidas, mas minha gente….tanto faz…ir num lugar ou no outro, principalmente quando nem sequer se escolheu.
E a badalhoquíssimo de ter de ouvir um corta unhas, como me repugna…
Preferia ser cega, surda e muda, não ter de ver, nem ouvir, para nao ter sequer de falar...
Não sabemos viver com os outros. E o mais difícil de tudo é conseguir introduzir algum senso cívico na cabeça de outra pessoa. Eu pelo menos não consigo. E já tentei de tudo…
Fazemos o culto dos mortos, somos orgulhosamente urbanos e porcos. Comemos como se não houvesse amanha, e como me faz impressão, a pressa, a cegueira, a estupidez de querermos ser os primeiros em tudo…é um vicio detestável.
Devia recusar-me a viver num mundo que não percebe, mas não tenho alternativa. As vezes imagino as cidades desertas, sem carros, sem pessoas a percorrer as ruas, com pressa de chegar, a levar tudo e todos a frente…às vezes imagino-me a caminhar sozinha nessas ruas, sem cães vadios esfomeados, sem gatos atropelados, sem ter de esperar nas passadeiras que alguém se digne a parar, cidades completamente vazias de movimento, só eu, a caminhar….