Friday, April 24, 2009
Tudo isto é Nietzsche - Para além do bem e do mal
“(…)uma ambição metafísica em manter uma posição desesperada, pode de facto desempenhar um papel e por fim preferir uma mão cheia de “certeza” a um carregamento de belas possibilidades; podem mesmo existir fanáticos puritanos de consciência que prefeririam deitar-se e morrer por um nada certo do que por algo incerto.”
“ O facto essencial sobre eles não é quererem voltar atrás, mas quererem libertar-se. Um pouco mais de força, de elevação, de coragem, de capacidade artística e quereriam sim elevar-se e afastar-se – e não voltar atrás!”
“A vontade parece-me ser acima de tudo uma coisa complicada"
“Escolham a boa solidão, a leviandade livre, a solidão fácil que vos dá, também a vós o direito de, em certo sentido, permanecer bons!”
“É difícil ser compreendido: especialmente quando se pensa e se vive entre homens que pensam e vivem de outro modo (…) No entanto, no que se refere aos nosso bons amigos, que são sempre demasiado indolentes para pensar, porque como nossos amigos têm o direito a indolência: far-se-á bem em dar-lhes logo a partida algum espaço e latitude para mal entendidos – assim poderemos rir a sua custa; ou corremos de todo com eles, com estes bons amigos – e também nos rirmos!”
“Aventura-se num labirinto, multiplica por mil os perigos que a vida como tal já trás consigo, dos quais não é o menor o facto de ninguém poder ver como e onde é que ele se perdeu, está isolado dos outros e é feito em pedaços por um qualquer Minotauro de caverna da consciência. Se um destes seres for destruído, isso ocorre tão longe da compreensão dos homens que estes nem o sentem nem o lamentam – e ele já não pode regressar! Já não pode regressar sequer a piedade dos homens!”
“Na nossa juventude respeitamos e desprezamos sem aquela arte de nuance que constitui a melhor coisa que obtemos da vida e, como não deixa de ser justo, que temos que pagar bem caro por termos assim assediado homens e coisas com sim e não.” Está tudo de tal forma regulado que o pior de todos os gostos, o gosto pelo incondicional, é cruelmente abusado e ridicularizado até que um homem aprenda a introduzir um pouco de arte nos seus sentimentos e até se aventure a experimentar o artificial; como os verdadeiros artistas da vida fazem. A ira e a reverência características da juventude parece não lhes permitir a paz até terem falsificado homens e coisas de tal forma que possam dar vazão a si próprios através deles - a juventude enquanto tal é algo que falsifica e engana. Mais tarde, quando a alma jovem, atormentada, por decepções, se volta finalmente para si própria com suspeita, ainda ardente e selvagem mesmo na sua suspeita e nos seus remorsos: que irada está agora consigo própria, como se vira impacientemente contra si mesma, como se vinga do longo tempo em que se enganou a si própria, como se se tivesse cegado a si própria deliberadamente! Durante esta transição uma pessoa pune-se não confiando nos seus próprios instintos; tortura o seu entusiasmo com dúvidas, na realidade, uma pessoa sente que até uma boa consciência está em perigo, como se uma boa consciência fosse um biombo e um sinal de que a subtil honestidade dessa pessoa se cansou; e acima de tudo, uma pessoa toma partido, toma partido por princípio contra a juventude. – Uma década depois: uma pessoa apercebe-se de que tudo aquilo foi demasiado – ainda era juventude!”
“Um tal homem escondido, que instintivamente usa a fala como silencio e ocultamento e é incasável a evitar a comunicação, quer que uma mascara de si próprio ocupe o coração e a cabeça dos seus amigos em vez dele próprio e assegura-se de que assim é; e supondo que ele não o quer, um dia verificará que a máscara está lá não obstante - e que isso é uma coisa boa. Todos os espíritos profundos precisam de uma mascara em torno de cada espírito profundo, graças ao constantemente falso, ou seja, à interpretação superficial de cada palavra que profere, a cada passo seu, a cada sinal de vida que dá.”
“Há que nos testarmos a nos próprios para saber se estamos aptos à independência e ao comando; e temos que o fazer na altura certa. Não devemos evitar estes testes a nós próprios, muito embora sejam talvez o jogo mais perigoso que se possa jogar e finalmente são testes que são feitos perante nos próprios e perante nenhum outro juiz. (…) Uma pessoa tem de saber como se preservar: o teste mais duro da independência.”
“Há que nos livrarmos do mau gosto de querermos estar de acordo com muitos. O bem já não é bem quando o vizinho o tem na boca. E como é que podia existir um bem comum! Expressão contradiz-se a si própria: o que pode ser comum não pode senão ter pouco valor. Acaba por ter de ser como é e como tem sempre sido: as grandes coisas são para os grandes, os abismos para os profundos, os estremecimentos e delicadezas para os refinados, e em suma, todas as coisas raras para os raros.”
“Oh meio dia de vida! Oh festival! Oh jardim de Verão! Aguardo em inquieto êxtase, aqui estou, atento, à espera – onde estão amigos? É a vós que espero, a postos dia e noite. Venham agora! É altura de cá estarem! Não foi por ti que hoje o glaciar trocou o cinzento por rosa? O riacho procura-te; e o vento e a nuvem erguem-se mais alto no azul, elevam-se ansiosos a tua procura. Para ti preparei a minha mesa nas mais elevadas alturas – quem vive tão perto das estrelas como eu, ou tão perto das profundezas do abismo? O meu império – alguma vez um império foi tão extenso? E o meu mel – quem é que provou a sua doçura?
Aí estão, amigos! – mas, ai de mim, não sou eu quem vieste visitar? Hesitam, olham fixamente – não, zanguei-vos antes! Já não sou – eu? A mão, o passo, o rosto, transformaram-se? E o que sou, para vós, amigos – não sou?
Serei eu outro? Um estranho para mim próprio? Saído de mim próprio? Um lutador que se submeteu demasiadas vezes? Que virou a sua própria força contra si próprio demasiadas vezes, travado e ferido pela sua própria vitoria?
Procurei eu onde o vento mais violentamente sopra, aprendi eu viver onde ninguém vive, no deserto onde apenas vive o urso polar, terei desaprendido a orar e praguejar, desaprendido homem e adeus, terei-me-ei tornado um fantasma esvoaçando pelos glaciares?
- oh amigos! Como estão pálidos, como estão cheios de amor e de terror! Não – vão! Não estejam zangados! Aqui – vocês não podiam estar em casa: aqui neste domínio longínquo de gelo e rochas – aqui têm de ser um caçador e como a cabra alpina.
Um caçador mau, foi isso que me tornei! – vejam como o meu arco está vergado! Aquele que vergou esse arco era certamente o mais poderoso dos homens: - mas a seta, - ah, nenhuma seta é tão perigosa como essa seta é perigosa – vão
! vão-se embora! Para vossa própria preservação!
Viram costas? – Oh coração, aguentaste bem, as tuas esperanças mantiveram-se fortes: agora mantém a tua porta aberta a novos amigos! Deixa os velhos partirem! Deixa as memorias partirem! Se outrora eras jovem, agora – és mais jovem!
Aquilo que um dia nos uniu, o laço de uma esperança – quem consegue ainda ler os sinais que o amor outrora aí escreveu, agora ténues e apagados? É como um pergaminho – descolorido, queimado – do qual a mão se retrai.
Já não amigos, mas – o que lhes hei-de chamar? São fantasmas de amigos que à noite batem ao meu coração e à minha janela, que me olham e dizem: - fomos outrora amigos? – oh mundo murcho, outrora fragrante como a rosa!
Oh, que anseio pela juventude, que não se conheceu a si própria! Aqueles por quem eu anseio, aqueles que eu julguei transformados em meus familiares – terem envelhecido foi o que os baniu: apenas aquele que se transforma continua meu familiar.
Oh meio dia de vida! Oh segunda juventude! Oh jardim e Verão! Aguardo em êxtase, estou atento, à espera – são amigos quem eu aguardo, apostos, dia e noite, novos amigos. Venham agora! É altura de cá estarem!
Esta canção terminou – o doce grito do desejo morreu nos lábios: foi um mago que o fez, o amigo oportuno, o amigo do meio dia – não! Não perguntes quem é – aconteceu ao meio dia, ao meio dia um tornou-se dois…
Agora juntos certos da vitoria, celebramos a festa das festas: o amigo Zaratustra chegou, o convidado dos convidados! Agora o mundo ri, a cortina do temos está rasgada, chegou o dia do casamento para a luz e a escuridão…”
“ O facto essencial sobre eles não é quererem voltar atrás, mas quererem libertar-se. Um pouco mais de força, de elevação, de coragem, de capacidade artística e quereriam sim elevar-se e afastar-se – e não voltar atrás!”
“A vontade parece-me ser acima de tudo uma coisa complicada"
“Escolham a boa solidão, a leviandade livre, a solidão fácil que vos dá, também a vós o direito de, em certo sentido, permanecer bons!”
“É difícil ser compreendido: especialmente quando se pensa e se vive entre homens que pensam e vivem de outro modo (…) No entanto, no que se refere aos nosso bons amigos, que são sempre demasiado indolentes para pensar, porque como nossos amigos têm o direito a indolência: far-se-á bem em dar-lhes logo a partida algum espaço e latitude para mal entendidos – assim poderemos rir a sua custa; ou corremos de todo com eles, com estes bons amigos – e também nos rirmos!”
“Aventura-se num labirinto, multiplica por mil os perigos que a vida como tal já trás consigo, dos quais não é o menor o facto de ninguém poder ver como e onde é que ele se perdeu, está isolado dos outros e é feito em pedaços por um qualquer Minotauro de caverna da consciência. Se um destes seres for destruído, isso ocorre tão longe da compreensão dos homens que estes nem o sentem nem o lamentam – e ele já não pode regressar! Já não pode regressar sequer a piedade dos homens!”
“Na nossa juventude respeitamos e desprezamos sem aquela arte de nuance que constitui a melhor coisa que obtemos da vida e, como não deixa de ser justo, que temos que pagar bem caro por termos assim assediado homens e coisas com sim e não.” Está tudo de tal forma regulado que o pior de todos os gostos, o gosto pelo incondicional, é cruelmente abusado e ridicularizado até que um homem aprenda a introduzir um pouco de arte nos seus sentimentos e até se aventure a experimentar o artificial; como os verdadeiros artistas da vida fazem. A ira e a reverência características da juventude parece não lhes permitir a paz até terem falsificado homens e coisas de tal forma que possam dar vazão a si próprios através deles - a juventude enquanto tal é algo que falsifica e engana. Mais tarde, quando a alma jovem, atormentada, por decepções, se volta finalmente para si própria com suspeita, ainda ardente e selvagem mesmo na sua suspeita e nos seus remorsos: que irada está agora consigo própria, como se vira impacientemente contra si mesma, como se vinga do longo tempo em que se enganou a si própria, como se se tivesse cegado a si própria deliberadamente! Durante esta transição uma pessoa pune-se não confiando nos seus próprios instintos; tortura o seu entusiasmo com dúvidas, na realidade, uma pessoa sente que até uma boa consciência está em perigo, como se uma boa consciência fosse um biombo e um sinal de que a subtil honestidade dessa pessoa se cansou; e acima de tudo, uma pessoa toma partido, toma partido por princípio contra a juventude. – Uma década depois: uma pessoa apercebe-se de que tudo aquilo foi demasiado – ainda era juventude!”
“Um tal homem escondido, que instintivamente usa a fala como silencio e ocultamento e é incasável a evitar a comunicação, quer que uma mascara de si próprio ocupe o coração e a cabeça dos seus amigos em vez dele próprio e assegura-se de que assim é; e supondo que ele não o quer, um dia verificará que a máscara está lá não obstante - e que isso é uma coisa boa. Todos os espíritos profundos precisam de uma mascara em torno de cada espírito profundo, graças ao constantemente falso, ou seja, à interpretação superficial de cada palavra que profere, a cada passo seu, a cada sinal de vida que dá.”
“Há que nos testarmos a nos próprios para saber se estamos aptos à independência e ao comando; e temos que o fazer na altura certa. Não devemos evitar estes testes a nós próprios, muito embora sejam talvez o jogo mais perigoso que se possa jogar e finalmente são testes que são feitos perante nos próprios e perante nenhum outro juiz. (…) Uma pessoa tem de saber como se preservar: o teste mais duro da independência.”
“Há que nos livrarmos do mau gosto de querermos estar de acordo com muitos. O bem já não é bem quando o vizinho o tem na boca. E como é que podia existir um bem comum! Expressão contradiz-se a si própria: o que pode ser comum não pode senão ter pouco valor. Acaba por ter de ser como é e como tem sempre sido: as grandes coisas são para os grandes, os abismos para os profundos, os estremecimentos e delicadezas para os refinados, e em suma, todas as coisas raras para os raros.”
“Oh meio dia de vida! Oh festival! Oh jardim de Verão! Aguardo em inquieto êxtase, aqui estou, atento, à espera – onde estão amigos? É a vós que espero, a postos dia e noite. Venham agora! É altura de cá estarem! Não foi por ti que hoje o glaciar trocou o cinzento por rosa? O riacho procura-te; e o vento e a nuvem erguem-se mais alto no azul, elevam-se ansiosos a tua procura. Para ti preparei a minha mesa nas mais elevadas alturas – quem vive tão perto das estrelas como eu, ou tão perto das profundezas do abismo? O meu império – alguma vez um império foi tão extenso? E o meu mel – quem é que provou a sua doçura?
Aí estão, amigos! – mas, ai de mim, não sou eu quem vieste visitar? Hesitam, olham fixamente – não, zanguei-vos antes! Já não sou – eu? A mão, o passo, o rosto, transformaram-se? E o que sou, para vós, amigos – não sou?
Serei eu outro? Um estranho para mim próprio? Saído de mim próprio? Um lutador que se submeteu demasiadas vezes? Que virou a sua própria força contra si próprio demasiadas vezes, travado e ferido pela sua própria vitoria?
Procurei eu onde o vento mais violentamente sopra, aprendi eu viver onde ninguém vive, no deserto onde apenas vive o urso polar, terei desaprendido a orar e praguejar, desaprendido homem e adeus, terei-me-ei tornado um fantasma esvoaçando pelos glaciares?
- oh amigos! Como estão pálidos, como estão cheios de amor e de terror! Não – vão! Não estejam zangados! Aqui – vocês não podiam estar em casa: aqui neste domínio longínquo de gelo e rochas – aqui têm de ser um caçador e como a cabra alpina.
Um caçador mau, foi isso que me tornei! – vejam como o meu arco está vergado! Aquele que vergou esse arco era certamente o mais poderoso dos homens: - mas a seta, - ah, nenhuma seta é tão perigosa como essa seta é perigosa – vão
! vão-se embora! Para vossa própria preservação!
Viram costas? – Oh coração, aguentaste bem, as tuas esperanças mantiveram-se fortes: agora mantém a tua porta aberta a novos amigos! Deixa os velhos partirem! Deixa as memorias partirem! Se outrora eras jovem, agora – és mais jovem!
Aquilo que um dia nos uniu, o laço de uma esperança – quem consegue ainda ler os sinais que o amor outrora aí escreveu, agora ténues e apagados? É como um pergaminho – descolorido, queimado – do qual a mão se retrai.
Já não amigos, mas – o que lhes hei-de chamar? São fantasmas de amigos que à noite batem ao meu coração e à minha janela, que me olham e dizem: - fomos outrora amigos? – oh mundo murcho, outrora fragrante como a rosa!
Oh, que anseio pela juventude, que não se conheceu a si própria! Aqueles por quem eu anseio, aqueles que eu julguei transformados em meus familiares – terem envelhecido foi o que os baniu: apenas aquele que se transforma continua meu familiar.
Oh meio dia de vida! Oh segunda juventude! Oh jardim e Verão! Aguardo em êxtase, estou atento, à espera – são amigos quem eu aguardo, apostos, dia e noite, novos amigos. Venham agora! É altura de cá estarem!
Esta canção terminou – o doce grito do desejo morreu nos lábios: foi um mago que o fez, o amigo oportuno, o amigo do meio dia – não! Não perguntes quem é – aconteceu ao meio dia, ao meio dia um tornou-se dois…
Agora juntos certos da vitoria, celebramos a festa das festas: o amigo Zaratustra chegou, o convidado dos convidados! Agora o mundo ri, a cortina do temos está rasgada, chegou o dia do casamento para a luz e a escuridão…”
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